terça-feira, 18 de novembro de 2014

quarta-feira, 17 de setembro de 2014







Integração ou inclusão ?


Tendemos, pela distorção/redução de uma ideia, a nos desviar dos desafios de uma mudança efetiva de nossos propósitos e práticas. A indiferenciação entre os processos de integração e inclusão escolar é prova dessa tendência na educação e está reforçando a vigência do paradigma tradicional de serviços educacionais.Muitos, no entanto, continuam mantendo-o ao defender a inclusão!
A discussão em torno da integração e da inclusão cria ainda inúmeras e infindáveis polêmicas, provocando as corporações de professores e de profissionais da área de saúde que atuam no atendimento às pessoas com deficiência - os para-médicos e outros, que tratam clinicamente de crianças e jovens com problemas escolares e de adaptação social. A inclusão também “mexe” com as associações de pais que adotam paradigmas tradicionais de assistência às suas clientelas. Afeta, e muito, os professores da educação especial temerosos de perder o espaço que conquistaram nas escolas e redes de ensino e envolvem grupos de pesquisa das Universidades (Mantoan, 2002; Doré, Wagner e Brunet, 1996).
Os professores do ensino regular consideram-se incompetentes para atender às diferenças nas salas de aula, especialmente aos alunos com deficiência, pois seus colegas especializados sempre se distinguiram por realizar unicamente esse atendimento e exageraram essa capacidade de fazê-lo aos olhos de todos (Mittler, 2000).
Há também um movimento contrário de pais de alunos sem deficiências, que não admitem a inclusão, por acharem que as escolas vão baixar e/ou piorar ainda mais a qualidade de ensino se tiverem de receber esses novos alunos.
Os dois vocábulos - integração e inclusão - conquanto tenham significados semelhantes, são empregados para expressar situações de inserção diferentes e se fundamentam em posicionamentos teórico-metodológicos divergentes. Grifei os termos, porque acho ainda necessário frisá-los, embora admita que essa distinção já poderia estar bem definida no contexto educacional.
         O processo de integração escolar tem sido entendido de diversas maneiras. O uso do vocábulo “integração” refere-se mais especificamente à inserção escolar de alunos com deficiência nas escolas comuns, mas seu emprego é encontrado até mesmo para designar alunos agrupados em escolas especiais para pessoas com deficiência, ou mesmo em classes especiais, grupos de lazer, residências para deficientes.
Os movimentos em favor da integração de crianças com deficiência surgiram nos países nórdicos em 1969, quando se questionaram as práticas sociais e escolares de segregação. Sua noção de base é o princípio de normalização, que não sendo específico da vida escolar, atinge o conjunto de manifestações e atividades humanas e todas as etapas da vida das pessoas, sejam elas afetadas ou não por uma incapacidade, dificuldade ou inadaptação.
Pela integração escolar, o aluno tem acesso às escolas por meio de um leque de possibilidades educacionais, que vai da inserção às salas de aula do ensino regular ao ensino em escolas especiais.
         O processo de integração ocorre dentro de uma estrutura educacional, que oferece ao aluno a oportunidade de transitar no sistema escolar, da classe regular ao ensino especial, em todos os seus tipos de atendimento: escolas especiais, classes especiais em escolas comuns, ensino itinerante, salas de recursos, classes hospitalares, ensino domiciliar e outros. Trata-se de uma concepção de inserção parcial, porque o sistema prevê serviços educacionais segregados.
É sabido (e alguns de nós têm experiência própria no assunto), que os alunos que migram das escolas comuns para serviços da educação especial muito raramente se deslocam para os menos segregados e, raramente, retornam/ingressam às salas de aula do ensino regular.
         Nas situações de integração escolar, nem todos os alunos com deficiência cabem nas turmas de ensino regular, pois há uma seleção prévia dos que estão aptos à inserção. Para esses casos, são indicados: a individualização dos programas escolares, currículos adaptados, avaliações especiais, redução dos objetivos educacionais para compensar as dificuldades de aprender. Em uma palavra, a escola não muda como um todo, mas os alunos têm de mudar para se adaptarem às suas exigências.
A integração escolar pode ser entendida como o especial na educação, ou seja, a justaposição do ensino especial ao regular, ocasionando um inchaço desta modalidade, pelo deslocamento de profissionais, recursos, métodos, técnicas da educação especial às escolas regulares.
Quanto à inclusão, esta questiona não somente as políticas e a organização da educação especial e regular, mas também o próprio conceito de integração. Ela é incompatível com a integração, pois prevê a inserção escolar de forma radical, completa e sistemática. Todos os alunos, sem exceções, devem freqüentar as salas de aula do ensino regular.
O objetivo da integração é inserir um aluno ou um grupo de alunos que já foram anteriormente excluídos e o mote da inclusão, ao contrário, é o de não deixar ninguém no exterior do ensino regular, desde o começo da vida escolar. As escolas inclusivas propõem um modo de organização do sistema educacional que considera as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função dessas necessidades.
Por tudo isso, a inclusão implica uma mudança de perspectiva educacional, pois não se limita aos alunos com deficiência e aos que apresentam dificuldades de aprender, mas a todos os demais, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral. Os alunos com deficiência constituem uma grande preocupação para os educadores inclusivos, mas todos sabemos que a maioria dos que fracassam na escola são alunos que não vêm do ensino especial, mas que possivelmente acabarão nele! (Mantoan, 1999)
      A radicalidade da inclusão vem do fato de exigir uma mudança de paradigma educacional, como já nos referimos anteriormente. Na perspectiva inclusiva, suprime-se a subdivisão dos sistemas escolares em modalidades de ensino especial e regular. As escolas atendem às diferenças, sem discriminar, sem trabalhar à parte com alguns alunos, sem estabelecer regras específicas para se planejar, para aprender, para avaliar (currículos, atividades, avaliação da aprendizagem para alunos com deficiência e com necessidades educacionais especiais).
            Pode-se, pois, imaginar o impacto da inclusão nos sistemas de ensino ao supor a abolição completa dos serviços segregados da educação especial, os programas de reforço escolar, salas de aceleração, turmas especiais e outros.
Na perspectiva de o especial da educação, a inclusão é uma provocação, cuja intenção é melhorar a qualidade do ensino das escolas, atingindo todos os alunos que fracassam em suas salas de aula.
          A metáfora da inclusão é o caleidoscópio. Esta imagem foi bem descrita pelas palavras de uma de suas grandes defensoras: Marsha Forest. Tive o privilégio de conhecê-la, em Toronto, no Canadá, em 1996, quando a visitei em sua casa. Infelizmente, ela faleceu em 2001, quando estava de malas prontas para vir ao Brasil, para participar de um grande evento educacional e para conhecer os trabalhos orientados para a inclusão em nossas redes públicas e escolas particulares. 
          Em sua homenagem, destaco como Marsha se refere ao caleidoscópio educacional:  "O caleidoscópio precisa de todos os pedaços que o compõem. Quando se   retiram  pedaços dele, o desenho se torna menos complexo, menos rico. As  crianças  se desenvolvem,   aprendem e evoluem melhor em um ambiente rico  e variado”.
A distinção entre integração e inclusão é um bom começo para esclarecermos o processo de transformação das escolas, de modo que possam acolher, indistintamente todos os alunos, nos diferentes níveis de ensino.
Temos já um bom número de idéias para analisar, comparar, reinterpretar. Elas serão certamente retomadas, revisadas e ampliadas, no que trataremos a seguir.



MANTOAN, Maria Teresa; Inclusão Escolar: o que é? por quê? como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.


sábado, 13 de setembro de 2014


Há dez anos atrás ou dez anos atrás, qual é o certo?
Vivien Chivalski, do Instituto Passadori de Educação Corporativa, explica qual é a expressão correta: "dez anos atrás" ou "há dez anos atrás"
Editado por Camila Pati, de Exame.abril.com.br

                                                                                                                                Samuel Aguar/Wikimedia Comons
            " Eu nasci há dez mil anos atrás": música de Raul Seixas imortalizou a expressão.

Uma armadilha na vida corporativa são os excessos – há muitas reuniões, e-mails, relatórios. Tudo que é demais pode ser questionado e isso não é diferente na língua portuguesa.

Quando há abusos, o nome técnico – pleonasmo – pouco importa. O fato é que a repetição de termos inúteis, supérfluos, redundantes compromete a coerência da informação e da frase.

A expressão “há dez anos atrás” é um exemplo desse erro. O verbo haver impede a palavra atrás em seguida sempre que estiver relacionado a tempo, à ação que já se passou. Há, portanto, duas formas corretas para a frase: “há dez anos” ou “dez anos atrás”.

Parece fácil, mas o erro é comum e chega a ser um vício repetido no dia a dia e reforçado muitas vezes. Quem não ouviu Gilberto Gil cantar “vamos fugir para outro lugar, baby” ou Raul Seixas declarar “eu nasci há dez mil anos atrás”?

Vamos deixar a liberdade poética para outra discussão. No ambiente corporativo, a consequência é que usamos expressões que não somam sentido à mensagem. São vazias e totalmente desnecessárias, principalmente, quando sabemos que o texto de trabalho precisa ser claro e objetivo. 

Aqui estão outros exemplos:

O resultado deverá demorar ainda mais dois dias – as palavras ainda e mais não devem estar juntas, pois passam o mesmo significado. Escolha uma delas.

 Precisamos criar novos caminhos – criar o novo é redundância óbvia, pode parecer até brincadeira.

Já não há mais tempo para resolver isso – já e mais têm o mesmo valor na frase, usar as duas é como “subir para cima”. Escreva “já não há tempo para resolver isso” ou “não há mais tempo para resolver isso”.

Precisamos restaurar as casas antigas da cidade – dispensa comentário – não restauramos o que é novo.

Essas frases podem transmitir desleixo ou falta de revisão. Para não cair nessas ciladas, só posso deixar uma dica: fique atento.

Vivien Chivalski – facilitadora do Instituto Passadori - Educação Corporativa.
Adaptado por Eunice Alonso.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

O novo, o velho e o antigo


O novo, o velho e o antigo



O tempo  sempre ocupou lugar de destaque entre as preocupações do ser humano, que ao longo de toda a sua história desenvolveu formas de medi-lo, representando  tentativas de  organizar  a vida. A concepção de tempo é vista de diferentes modos  pela filosofia, física e outras áreas de conhecimento, entre as quais é considerado como absoluto, finito, infinito, cíclico e linear.

O tempo de vida individual é linear, ocorre apenas em uma direção, é irreversível. Por essa razão tentamos constantemente  controlar nossa  trajetória  a partir do ponto em que nos encontramos na linha de domínio do tempo.

Quando procurada por jovens  irresolutos diante de decisões a serem tomadas, oriento que por serem jovens, devem se arriscar, pois se nada der certo, terão tempo de vida para recomeçar.  Somente ao refletir sobre a  questão do tempo individual  é que percebi  o meu engano ao pensar dessa forma.  Há um equívoco nessa maneira de pensar. Sempre é tempo de viver coisas novas,  qualquer coisa.  Quanto menos tempo individual nos restar, mais deveremos nos abrir para o novo.

O novo é o que nos possibilita o vir-a-ser: um novo projeto, um novo trabalho, um novo amor, o incerto... um novo homem. É o desafio,  a oportunidade de fazer e ser melhor.  É experimentar, lançar-se em direção ao desconhecido,  atrever-se e correr riscos.

Muitas vezes, o novo é visto como ilógico e irracional. Mas é por meio do que é  tido como insensato que promovemos grandes realizações. Alguns afirmam, por exemplo, que lógico é que não possamos sentir falta daquilo que nunca tivemos, porém somos seres  capazes de sentir falta do que ainda é desconhecido, daquilo que nunca foi nosso. A partir disso, promovemos invenções e descobertas do que precisamos, projetamos ou sonhamos,  suprindo a nossa necessidade por meio do novo.

Considerando que o tempo individual é  irreversível para nós, o novo  não  encontra-se no passado e nem no futuro, um tempo que há de vir.  O novo é inseparável do agora, não reside  em um tempo inacessível ao homem.  

O antigo, no entanto, nos remete ao que foi vivido. Permite que retornemos no tempo por meio de nossa mente e possamos reviver o que quisermos: momentos bons ou ruins.  Preferimos muito mais reviver o que foi bom. As lembranças fazem com que possamos ter  a sensação de viver o já vivido, em um novo tempo.

O homem antigo é o que se renova. É aquele que vive tendo a segurança do saber adquirido, das lições  aprendidas, de mudanças realizadas.  O  ser humano não nasce pronto,  vai se fazendo com o passar do tempo em que vive, tornando-se assim, antigo e dessa forma, nem sempre fica velho, pois somente envelhecemos quando vivemos sem aprender nadaMas o homem antigo  não é o novo homem, não se aventura, é ponderado demais, sensato demais, prudente demais. Renovar-se é ficar como novo, não é o novo.

A apreensão e compreensão dos conhecimentos admite a reelaboração dos sentidos dos saberes velhos que,  redimensionados por novas focalizações, resultam em nova versão  do mundo já conhecido. Assim, construído a partir do conhecimento velho, o novo impulsiona a evolução humana e em favor desta torna-se velho, para que o conhecimento novo se faça do mesmo modo, resultando em um movimento progressista.

Ao olharmos para a vida, percebemos que não é possível contrapor abstratamente o velho, o novo e o antigo. Podemos distinguir suas características artificialmente, mas essas são inseparáveis, pois convivemos com a tríade o tempo todo. O que nos situa em um dos três domínios, não é o quanto vivemos sob a contagem do tempo, mas como escolhemos permanecer em relação a nós mesmos e ao novo.

Não nascemos destinados a ficarmos velhos ou com o desígnio de sermos antigos, mas de aproveitarmos toda a essência de vida que tivermos em nós para vivermos o novo, para sermos o novo homem.   Esse é o propósito de vivermos em um plano no qual nada foi feito com a finalidade de durar para sempre.

                                                                                                                    Eunice Alonso


DALÍ, Salvador. A persistência da Memória. Disponível em  <http://www.moma.org/collection/object.php?object id =79018> Acesso em: 28 de jul.2014.

domingo, 6 de julho de 2014

Desamar


Desamar


O amor é mesmo como disse o poeta1: o fogo que arde sem se ver. Fácil é nos render a ele, mas quando temos  que deixar de amar, temos que desamar,  é  preciso muita coragem.

O desamor é o desapego, é relegar a um canto secreto aquilo que te faz tão feliz,  que nos ilumina por completo, que nos aquece, nos acende. E todos sabem como é difícil ocultar a luz proveniente do fogo.

A energia que emana das chamas inunda-nos, assim como tudo o que estiver a nossa volta.  Por mais tentativas que façamos,  os raios encontram sempre uma fresta, e escapam na velocidade que lhe é própria, a da luz, insuperável entre as demais.

A melhor estratégia para extinguir as chamas, sem nos  aproximarmos muito e nos queimar, é privá-las de todo o oxigênio. Se conseguires colocar-lhes uma redoma, quando todo o oxigênio contido nela for consumido, as chamas definharão, reduzir-se-ão tremulando,  como se pedissem socorro, lutando pela existência,  tocando o coração,  amoroso por natureza.

Sentindo-se ameaçado por tamanha dor,   o coração requer o auxilio de outros órgãos do corpo, que, solidários,  prontamente deixam de realizar suas funções vitais para socorrê-lo.  Os olhos perdem o controle sobre o canal lacrimal, a boca, o controle sobre as glândulas salivares,  a concentração nos falta, nossos pensamentos ficam confusos, ficamos indispostos, a deriva,  pois todos os esforços são direcionados para amenizar a dor do coração, consolá-lo, salvá-lo. Algumas pessoas sucumbem, tombam, não resistem ao caos.

Desamar é algo que nos faz sofrer, prejudica-nos. Tens que ser corajoso, persistente, para suportar tal processo, durante o qual verá  o amor se apagar e com ele, seus sonhos desaparecerem. E o que somos sem amor? Sem nossos sonhos?  Nada. É isso, desamar é reduzir-se a nada, negar-se, desacreditar-se, retornar de lugares que nunca existiram, mas dos quais estivemos tão próximos, deixar de viver plenamente,  morrer um pouco.

Sendo assim, por que desamar? Por invenções realizadas pelo próprio homem como as convenções, por controle e poder sobre si, sobre o outro e sobre as coisas que nos cercam, por egoísmo, por orgulho, por não ter o amor reconhecido pelo outro.

Amar não é uma escolha, encontra-se o amor e ele instala-se em nós. Desamar é escolher o martírio, ou seja, o sofrimento, a morte por ter amado.

Felizes aqueles que nunca  submeteram-se a isso.

Felizes daqueles que nunca caminharam sobre as cinzas de um amor.

                                                                                                         Eunice Alonso


 Vénus de Milo - sala 16 - Museu  do Louvre. Paris,  2012.
 1Luís de Camões

quinta-feira, 3 de julho de 2014

domingo, 29 de junho de 2014

Orquídeas


Orquídeas


Domingo de  manhã, abri a  porta  da sala de estar e  fui surpreendia  por um cacho de  orquídeas .

Elas  surgiram, para mim, inesperadamente,  exuberantes, mas delicadas, em pleno  domingo chuvoso.  Às vezes,  os professores  não  trabalham aos domingos.

Eu que não sou adepta a fotografar, não me contive. 

Olhei para o jardim. E elas pareceram-me mais belas ainda, a  me presentearem  com suas flores ... a embelezar aquele lugar.  Como são lindas, livres por saberem que suas flores têm apenas alguns dias  de vida, exibem-nas  para o mundo sem esperar absolutamente nada em troca.

Não nasceram ali. Depositei-as nos braços daquelas palmeiras há algum tempo, eram pequenas mudas, reguei-as, tirei-lhes as folhas secas.  Alimentei-as, ouvi seus lamentos a respeito do sol escaldante da nossa região e admirei-as, mesmo quando ainda não produziam flores.  Convivemos, nos  conhecemos  e  nos apaixonamos.

Hoje elas iluminaram ainda mais o meu dia, porém de forma diferente: floresceram  com todo o seu vigor ... usufruindo de toda a beleza daquele conjunto para serem ainda mais notadas.

No início da tarde, o  céu escureceu. A chuva  chegou. Elas se refrescaram, bailaram nas alturas com o vento  e quando o sol ressurgiu se mantiveram lindas, cheias de vida. Insuportavelmente invejáveis.  Sabem que são únicas e fazem toda a diferença para o mundo. E eu tenho a certeza de  que não seria a mesma sem elas.

Assim são os amigos.  Assim vejo  vocês , meus amigos!

                                                            Eunice Alonso       






quinta-feira, 19 de junho de 2014

O Café


O Café


Um café suíço e três mini pães de queijo. É sempre o meu pedido. Uma combinação perfeita.  A mistura de cheiros na cafeteria é algo que me intriga e me acorda.

Antes de entrar,  olho pela vitrine e as vejo sentadas entre tantos outros. Nunca sou a primeira a chegar.  Cumprimentamo-nos como se não nos víssemos há dias.  É no café que celebramos a vida, a amizade, o laço que nos une.

O café é um momento terapêutico. No café conversamos sobre sonhos, conquistas, amores, desamores, perdas, enganos.  Ouvimos, falamos, deliberamos, acordamos, aconselhamos. É  consenso entre nós: ou tomamos café ou pagamos terapeuta. Tomamos café. Muitos cafés.

É comum dividirmos, em meio a tanta gente desconhecida, em uma mesinha, as nossas maiores angústias,  muitos dos nossos segredos, as nossas alegrias. É como se estivéssemos em um campo neutro. Às vezes alguém é pego as gargalhadas, e então nos lembramos de que estamos ali.

Quem se aventura a sentar-se à mesa, em poucos minutos é capaz de contar, olhando em nossos olhos a sua maior aventura ou desventura.  Já ouvi relatos impressionantes.  Também falamos sobre negócios, trabalho, estudos, inclusive viagens em busca de pessoas com as quais nunca estivemos antes.

Foi neste lugar que comemorei muitas conquistas. No café brindei, em meados deste ano,  o início da realização de um dos meus projetos materiais mais antigos. Aproximamos nossas xícaras e foi emocionante ver a alegria do grupo.

Mesmo quando fico impedida de estar no café, sei que estão juntos e que se lembram de mim.  Orgulho-me de,  apesar da minha inexperiência e vontade de  viver em uma única vida o que deveria viver em duas, ou três,  me ouvirem e considerarem minhas colocações.

Às vezes, alguém necessita excepcionalmente de um café. Na semana passada solicitei um. O meu primeiro. Um mate gelado, pois foi no final da tarde.  Falei durante mais de uma hora. Sem ser muito clara, tenho certeza. Mas não houve perguntas indiscretas. Aconselharam-me, mas a decisão é minha. Não perguntaram o porquê, mas do que eu precisava. E isso é o que vale.

O café é como o abraço. Envolve-nos, aproxima os corações, é a troca de energia que nos equilibra.


                                                                                                                      Eunice Alonso

domingo, 11 de maio de 2014